Lembro vividamente (e como esquecer?) dos primeiros dias do puerpério. Ou devo dizer primeiros anos? Não que tenham se passado mais de 365 dias daquela sensação horrível que me engolia, mas porque não consigo racionalizar que se passou em tão “pouco” tempo...
É difícil e eu diria enlouquecedor.
São tantas coisas, tantas nuances, aspectos e complexidades que por muito tempo não consegui sequer colocar em palavras.
Lembro que no dia anterior ao parto eu estava animada, radiante até (se não fossem os 16 kilos a mais atrapalhando a minha respiração), estava feliz e esperançosa com toda a vida que teria pela frente para aproveitar com a minha filha!
No dia seguinte ao parto eu já não sabia quem eu era, o que eu queria ou porquê querer.
Lembro de olhar para a parede e chorar.
Lembro de me culpar por chorar.
Lembro de chorar por me culpar.
Não te contam. Ou pelo menos não me contaram. E a onda me levou... me levou e levou a minha saúde mental de mim.
Enquanto eu tentava me agarrar a qualquer sentimento bom que passasse por aí, a culpa fazia questão de destruir tudo que restava.
“Você não deveria estar se sentindo assim”
“Sua filha não vai se sentir amada se souber que você estava se sentindo dessa forma”
“Esse não é afinal, o momento mais feliz da sua vida?”
Não. Não era.
Talvez se eu soubesse antes teria sido... menos pior.
O meu peito doía. E eu não estou falando sobre o início doloroso da amamentação.
Minhas costas doíam.
Meus olhos.
Meu coração.
“São muitos hormônios que chegam” – Eles me diziam. E eu apenas acenava.
Hoje vejo que era muito mais.
“São muitas de mim que foram embora” – Eu teria respondido.
E é tentando conciliar tudo isso e MUITO mais que o puerpério nos empurra para o que podemos achar (com frequência) que é o fundo de um grande poço. Leva muito da saúde mental, mas nos deixa a única coisa que trará ela de volta em algum momento:
Nós mesmas.
Quem quer que sejamos a partir desse momento!